domingo, 3 de maio de 2009

Relatos de um donzelo. (Final)

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No colégio ou em casa, num ritmo bem mais lento e desinteressante, vinha a ciência. Foi quando ouvi falar dos tais hormônios do sexo, reprodutivos. As mudanças tão faladas vieram e então percebi que poderosos mesmo eram esses tais hormônios. Quando eles quisessem que um pentelho brotasse não tinha Peter Pan que impedisse.

Nas ruas, coitada da mãe de quem me chamasse de criança. Eu e meus hormônios queríamos ser adolescentes. Vontade semelhante à de quando, hoje em dia, alguém me garante que “vinho bom é o vinho do Frei” enquanto eu sirvo um bom Cabernet Sauvignon chileno, era a minha de substituir o bidê de banheiro dessas pessoas por uma serrinha tico-tico, sem que elas notassem.

As meninas, agora, já faziam todo sentido... e esse é o problema. O sentido que nós, pobres criaturas masculinas, damos às mulheres precocemente após tão perturbada fase de transição, é o que nos faz ser a escória dominada na guerra dos sexos.

Tintas de cabelo, sutiãs com preenchimento, perfumes, são armas poderosas demais. Como podem jogar tão baixo? Lembro de uma garota em minha adolescência que por anos enlouqueceu a todos por se fazer ruiva. Por mais que aquela mulher dos reclames de Silvio Santos me dissesse que Márcia era a tinta que ela usava em seus cabelos, o meu tesão descontrolado me fez acreditar, por anos, que a tal Ruiva usurpadora, obviamente morena, era de fato ruiva.

Meu cérebro, perto do poder inebriante dos meus hormônios, era como uma avó já bastante idosa que insiste pro neto não jogar uma brita na casinha de marimbondos... Totalmente incapaz de convencer sobre o que é certo.

Hoje, jovem experiente, na flor viril da idade, vejo mulheres passeando pelas ruas, armadas até os mamilos. Usando das mais avançadas tecnologias em pigmentação sobre-cultânea e super cremes babosos de Aloe Vera. Silicones. Cabelos mais chapados do que Bob Marley, espelhando o efeito ressecante dos raios solares e combatendo o frizz. E me tranqüilizo em ser apenas um mero observador.

Eu nunca teria pique pra enfrentar essa guerra diária. Os travestis que o digam...

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Este post foi um oferecimento de Brasil, Aloe Vera Forever.
http://www.nossosaopaulo.com.br/AloeVeraForever/

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Relatos de um donzelo. (Parte 1)

Desde a quinta série me incomoda uma espécie de angústia, quase inveja, daquela história tão bem aceita socialmente de que as meninas “evoluem primeiro”.

Antes era tudo muito simples. Brinquedos me faziam feliz como, teoricamente, mulher alguma poderia me fazer na vida adulta. Legos, comandos em ação, bicicletas e videogames simbolizavam o par perfeito, num relacionamento onde facilmente eu mantinha o controle. Embora eu destruísse qualquer esperança de preservação de um brinquedo, o que me rendeu o apelido de Cupim de Aço, nenhum G.I. Joe jamais brigou comigo e se recusou a continuar brincando por eu ter perdido a sua pistola de plástico ou quebrado seu dedão.

O mundo adulto me foi revelado, então, à medida que palavras estranhas, tais quais seus significados, bombardearam minha inocência.

Lembro quando alguns meninos orgulhosamente mais velhos vieram me explicar o que vinha a ser “porra”. A velha “porra”, que eu trouxe do berço. Uma das minhas palavras preferidas, segundo eles, seria alguma coisa líquida, que podia ser facilmente comparada com leite e que saía, para desespero meu, da Pitoca dos mais velhos. Oo

Mais tarde, estes mesmos meninos me fizeram descobrir um tipo de processo de nome um tanto assustador: A “masturbação”. Mas que diabo de palavra era aquela? Porra! Não é a toa que logo apelidaram a coisa.

As meninas, nessa fase inicial, nem eram tão mencionadas assim. Curioso, desafiado a crescer, para mim a vibe eram as mudanças. Era saber que meu pinto um dia também conseguiria produzir aquela coisa espetacular com a qual as vacas são tão familiarizadas. Assim, aos poucos, se ia a única fase da minha vida em que eu dominava. A fase assexuada.


Continua...

domingo, 8 de março de 2009

Água bóia (introdução).

Éramos adolescentes. Aplicados e preocupadíssimos com a causa mundial masculina, que diz respeito a aperfeiçoar o caminhar metafórico das nossas vidas em torno do órgão sexual feminino; a, com o perdão da palavra, Xoxota ou simplesmente "Xota", para os mais íntimos.

Caminhávamos conscientemente irresponsáveis, aproximadamente às duas horas da manhã na capital mais violenta do país, voltando de algum lugar sem importância para o resto do planeta do qual não me recordo, à caminho da casa de um dos amigos presentes e falando, obviamente, no motivo consciente ou inconsciente de todos os nossos atos: a Xota, quando alguém então não mudou nossas vidas nem um pouco, mas nos assustou bastante. Um morador de rua característico, de cócoras frente a um laguinho de praça característico, chamou nossa atenção gritando algo estranho e sem característica alguma da nossa língua, fazendo-nos calar imediatamente e olhar em sua direção, como um professor que já não suporta mais ver seus alunos conversarem baixinho sobre algo certamente relacionado à xoxota. Fitou-nos os olhos e então falou as seguintes sábias, ou pelo menos muito intrigantes, palavras: "-Água Bóia!"

Rumamos para casa com o passo apressado, deixando o precursor desse tímido blog, que nada acrescentará de ordinário à sua vida, para trás.

É em homenagem a este desafortunado homem, que nenhum de nós faz idéia de quem seja, que vos oferecerei a partir de hoje muita porcaria. Da melhor qualidade.